segunda-feira, 28 de julho de 2008

A ciência por trás da arte e a arte de retratar a ciência


Há várias correspondências entre os pensamentos científico e artístico. Duas delas, em particular, são freqüentemente observadas nas artes plásticas: a incorporação de avanços da ciência e da tecnologia no conjunto de técnicas utilizadas pelo artista para compor a sua obra e a presença de temas científicos – como expressões do contexto histórico em que se insere cada criação – nas obras de arte em si.
Do primeiro caso, é exemplo o uso de sistemas de lentes e espelhos como auxiliares nos processos de composição pictórica por pintores do século XVII. Nessa época, a produção de pinturas com o auxílio desses recursos se constituía em uma novidade que possibilitava aos artistas entrarem no mundo novo dos fenômenos ópticos, explorando formas possíveis de registro de imagens em suas telas.
A câmara escura é um desses recursos. Predecessora da câmara fotográfica, ela é um instrumento composto de uma caixa com um pequeno orifício, pelo qual entram raios luminosos provenientes do exterior e que são projetados de forma invertida no lado oposto ao orifício. Assim falou sobre ela Constantijn Huygens, pai do célebre cientista Christiaan Huygens: “Toda a pintura é morta em comparação a essa, pois aqui é a própria vida, ou algo mais nobre, se a palavra para exprimi-la não faltasse. Figura, contorno e movimento encontram-se aí naturalmente, de um modo extremamente agradável”.
Não é de se estranhar, portanto, que pintores como o holandês Johannes Vermeer, compatriota e contemporâneo de Huygens, possam ter utilizado a câmara escura como instrumento auxiliar de representação da realidade.
A obra de Vermeer virou tema de filme – A Moça com Brinco de Pérola – e sua relação com a ciência é abordada em artigo escrito por M.C. Barbosa-Lima, G. Queiroz e R. Santiago, publicado na revista Física na Escola, v. 8, n. 2, 2007 – Ciência e Arte: Vermeer, Huygens e Leeuwenhoek.
Mais recentemente na História da Arte, a obra de Salvador Dali constitui um típico caso em que o autor bebe na fonte da Ciência para conseguir a inspiração de seus quadros.
Em várias das mais de 700 telas pintadas por Dali é clara a identificação de temas que tratam da ciência (física, matemática ou biologia). Esta constatação pode ser feita através da simples observação de alguns títulos de seus quadros com palavras que fazem referência direta à ciência, como atômico(a) nuclear, partículas, desmaterialização, desintegração, microfísica, mésons-pi, quartadimensão e raios cósmicos.
Em A Desmaterialização do Nariz de Nero (veja figura acima), por exemplo, a imagem de uma grande romã é mostrada na parte central. A romã encontra-se dividida ao meio e suas sementes aparecem flutuando no ar entre as duas metades. Na visão de Dalí, a romã representa o universo atômico, ou seja, o próprio átomo. As sementes são vistas nessa representação como elétrons em constante movimento dentro do átomo.
Para conhecer melhor essa e outras relações entre a pintura de Dalí e o universo científico, leia o artigo Salvador Dali e a mecânica quântica, de Rodrigo Ronelli D. da Costa, Robson S. dos Nascimento e Marcelo Gomes Germano. O texto completo foi publicado na edição número 2 do volume 8 da revista Física na Escola.

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